O cavaleiro e a Morte

Narro aqui o encontro, de um bravo cavaleiro do norte.

Que vinha, trazido à sorte, vingar a morte da irmã.

Encontrou um errante à estrada, e com este tomou a palavra.

Assim se deu o incidente:

Errante:

Bravo guerreiro, que fazes aqui?

Vindo veloz de terras distantes?

Cavaleiro:

Eu busco a vingança, meu caro errante.

Vingança de morte da irmã que perdi.

Errante:

Essas terras a ti são estranhas,

Estamos em tempos escuros.

Qual teu nome, cavaleiro?

A quem apronta lança e escudo?

Cavaleiro

Apronto para o dono da morte

Meu nome haverás de saber.

Virá por notícias do norte

Celebrado de força e poder!

Errante:

Quem é, pois, o dono da morte

Senão a morte encarnada?

Aquela a quem ninguém mata.

Que nenhum mortal haverá de ganhar!

Cavaleiro:

Sou então homem, mas não mortal!

Pois procuro com ela duelar.

Se sabeis dela seu paradeiro

Errante, por favor, me avisai.

E se a Morte não treme aos meus pés

Que apareça para meu juramento findar!

Errante (revelando-se)

Revelar-me-ei a ti, cavaleiro.

Pois nunca vi homem assim

Que buscasse, sem sombra de medo,

Triste e corajoso fim.

Minha presença é escuridão oculta

Meu semblante ninguém jamais viu

Aos meus servidores: descanso eterno.

Aos vivos, encurto o pavio!

Cavaleiros:

Saca agora tua espada

Ou outra de tuas armas injustas

Levaste de mim uma metade

Mas esta ainda perdura!

Errante/A Morte

Estás definhando em demência

Não sabe o que dizes, então.

Atenta às minhas palavras:

A mim chamam Morte, não tenho coração.

E se este não tenho

Já não posso morrer.

Guarda agora tua espada, abaixa teu escudo.

Porquanto és tu quem tem a perder.

Levei de ti uma vida

Posso, porém, levar duas.

Cavaleiro:

Tiraste a vida de minha irmã querida!

Errante/A Morte:

E posso, sem dar a outra de volta,

Também tirar a tua.