SURREALISMO

Tira a camisa de força,

porque a camisa é bonita

- fala métrica, diz rima.

Tira a carreira da corça

e põe-lhe um laço de fita

como se fosse menina.

Tira das árvores a copa,

do chão exclui o cascalho,

esgota as águas do rio.

Requeima as terras da Europa,

põe na Atlântica o borralho

e os ventos no mar bravio.

Bota pneus no navio,

põe paletas no teu carro,

navega o mar no avião.

Quando a besta está no cio,

saberás que nasce barro

cruzando-a com o perdigão.

A arte não é do povo,

mas tão somente da elite,

que a dinheiro compra o luxo.

Se o surrealismo é o novo,

põe a leilão o arrebite

que imita a água em repuxo.

Retira a massa encefálica,

mistura-a bem ao lirismo

e produz ao teu talante.

Terás na matéria fálica

adesão, braço e ativismo

dos pares, o mais brilhante.

A arte não é do povo,

mas tão somente da elite,

que a dinheiro compra o luxo.

Se o surrealismo é o novo,

põe a leilão o arrebite

que imita a água em repuxo.

Dá a encontro por acaso

costureira e caranguejo

na mesa do corta-gente.

Nascerá de certo um vaso

de flores, gelo, sobejo

se a natureza o consente.

Golpeia o convencional

que a plebe respeita e estima,

elege o estúrdio, o torto.

Eleva, arreta a espiral,

o bico do pato em cima,

cornos em baixo do morto!

A realidade é mentira,

verdade é a descoberta

do sonho por realidade.

Massíficas dentro da lira,

as cordas que o tempo aperta

são pura banalidade!

"Pela verdade dos homens",

"um dizendo sim ao céu",

o outro dizendo ao diabo,

é certo que os lobisomens

são a grandeza do véu,

comem pão, queijo, quiabo.

Simplicidade divina

que ao homem consente tudo,

tudo aceita a belzebu.

Suplício, tortura, sina,

a gente armar-se de escudo...

- Espia! o rei está nu!