O ABRAÇO DA MORTALHA...
(Poet Ha, Abilio Machado.060508)
Fazia a noite mal dormida
macia e cheiro de flores
na manhã do dia preciso
no pisar de lágrimas postas
turvava a imagem de Narciso!
A pele pálida de olhos profundos
os lábios desenhados com maestria
olhava o reflexo, o próprio sopro do corpo
amava e ânsiava em possuí-lo, cria...
O jovem que ali via um dia envelheceu
o próprio espelho d'água secou, sumiu
aquilo que idolatrava em si
aos poucos perdeu a força, caiu!
Agora velho Narciso chorava
assentado no vaso fétido
folheava notícias velhas em jornais
Estarrecido...
Não lembrava ainda
que na noite de frio,
passada,
havia pulado seu ofício
havia ido,
estava duro e sozinho...
Morrido!
Um sem semblante parido
Na terra de Orfeu!
Saiba os futuros olhos de quem lê
que estas linhas saíram
N'uma noite fria do Paraná
a calça arriada
sentado eu na privada
no vaso escrevendo
e algo saia pelo sul...
Ploft...Ploft... Fedeu!!!