Elegia a festa do meu velório

Vejo-me atravessando um imenso corredor
Uma canção entoa hinos de amor
Amigos e curiosos, muitas pessoas
Contemplam a noiva que vai passando
De brilho e de branco se faz meu vestido
Flores do campo enfeitam meus cabelos
Outras lindas carrego nas mãos...
Alguém me espera ansioso
Parece um anjo, vestido de branco também!
Vou voando em mil pensamentos
Aquela mulher... Não parece ser eu!
As músicas, escolhidas a dedos eram poesias...
Em passos lentos, quase como um ritual...
Caminhei até o altar!
Palco daquilo que parecia amor!
Segurei nas mãos do homem...
E ele me trouxe de volta!
Atravessamos dessa vez juntos,
o infinito corredor,
Sobre os olhares curiosos
daquela imensa platéia...
Tinha ouvido algumas coisas...
Dito alguns sins...

Tudo era um sonho...
De um sono derradeiro!
Aquilo não era casamento
Se era... Hoje parece-me velório!
E revivo com olhos lassos
A festa que se tornou meu funeral!
Aquele corredor levava-me ao inferno
A música era a Marcha Fúnebre
De branco se fez negro meu vestido
As flores eram coroas
E as vi despetaladas sobre meu corpo
Aquele homem, trancou-me num caixão
Jogou-me numa cova
E com um sorriso asqueroso
Derrubou sobre mim três punhados de terra!
Pude ver as palavras no meu túmulo
Numa placa de metal que dizia:
"Aqui jaz uma mulher
Cheia de sonhos e planos
Aqui jaz uma poetisa
Amante do amor"

Pareceu eterno dois anos
que com as mãos amarradas sobre o peito
e a boca cheia de algodões
eu urrava agoniada...
Batia com os pés do caixão
Tentava de alguma forma
chamar a atenção de alguém...
Ninguém viu meu enterro!
Ninguém deu falta de mim
Meu Deus! Todos acreditaram que passei
dois anos casada...
Ninguém viu minha alma em putrefação
Estive sozinha... Pude ver de perto
Os olhos horrendos da morte e senti seu cheiro
Venci a morte!
Outra morte como essa...
Meu Deus! Não quero nunca mais...
Mara Andréa Machado
Enviado por Mara Andréa Machado em 27/04/2008
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