Confusão com as palavras

olhos fechados

flechados

feixe da luz

fenda no buraco do negror

não há luz fácil

tudo vaza do outro lado ou para o oposto

assim as coisas se comunciam

e se intrigam

se tragam

e se vomitam

Assim como

pode ser prazer a dor

fabricar qualquer poema

ou qualquer sistema solar

leva tempo

leva vida

mesmo que só uns minutos

quando pouco

sete dias quando Deus

tudo é uma questão de tradução

o que antes era treva

derepente: luz

Poema é só fagulha que escapa

pela fresta

do escuro

um mero buraco no muro da noite

pode ser poesia

descrever o vôo da cor

poderia dar em poema

um riso, a flor mais vagabunda

nem sempre é fácil

essa fuga

pois satã espreita-te de perto

num homem de bem

num pai

ex-aliado

na amada de ontem

num filho

num punhal

Quando cobre tudo a tempestade

não há saída fácil

nada é régua

ângulo reto

tudo é curvo no espaço

e no escuro só os bichos uivam

e as corujas e cobras acendem seus faróis: lutam

nessa hora peço paz

mas o sono vira fogo e queima meus neurônios

e vários sistemas solares

não há saída

a não ser a lucidez

quando se perde as rédeas do carro

e fico assim "meditante"

vendo como cinema

a vida à frente

esfacelada

e do mais alto dos altos edifícios

vejo todos os perigos amanhã

profecias

evidências admitidas, contidos, tidas e pressentidas.

É claro agora

mas nem a aurora me salva

lidar com o oculto é sempre revertério

mistério

é sempre tarde

quando tudo já arde

por isso não vejo mais que canto

perfumaria

o dia-a-dia

trabalho, cinema, amor...

distração pra não se viver em desencanto

tão somente

semente

Fico atento e forte

ou o barco vai à deriva

a pique

loucura e lucidez calçam o mesmo número

par

isto eu já sabia

mas sempre me pergunto:

quanto vento, quantos ventos têm que me soprar aos meus ouvidos

esses poetas/ profetas

seus agudos e graves

seus movimentos

avisando desditas:

o buraco é fundo

e o sistema solar vai colocar no fim tudo em seu devido lugar

a paz eterna

éter e chumbo

o passado é menos que um segundo

tudo é fluído

dependendo do ponto de vista

A nova era

as novas táticas de guerra

sonha e pesadelo

é certo

a certeza é só um segundo

o resto é navegação sem bússola

por isso faço a canção para o amanhã

e a flor exala seu perfume

o vagalume pisca

crias e sinais

criando um clima favorável.

Freud tudo explica

mas não dá réplica.

Buda ensina: não basta a espinha ereta/ mente quieta

sem coração tranqüilo

pra que tudo se aclare no quieto

o movimento nos faça leve

levitar

ou se vai assim no vento

na passeata

no redemoinho dos dias

no turburinho do mundo

no fundo

na confusão das palavras e dos sentidos

Bom que tudo resulte num poema

mesmo que confuso