E N I G M A
Eu aqui
e tu justo em frente de mim
cara a cara,
quiçá numa luta corpo a corpo,
tudo querendo dizer
e sem nada falar
Tu aí
e eu justo em frente de ti
sem pensar,
sem dizer
Mudos como dois postes
de madeira
enfileirados
Postes calados
e no silêncio tudo dizendo:
nada
Ah se brotassem
das bocas nossas palavras!
Quem haveria de combater as emoções
do nosso pensar?!
Eu aqui e tu
justo aí
a lambuzar os dedos
de sequilhos e broinhas
talvez pensando em
olorosos serafins
ou ciclopes loucos
preterindo o préstito de finados
Quantos enigmas
a descalçar facetas várias!
Qual a contradição
da argila que moldou
os nossos arcabouços
em solitários calabouços?
Queria repetir calada
todo o fio condutor
de nossas vidas
Como sobreviver a
essa corrupção dos meus sentidos?
Hesito em te escutar
e não vou muito longe
Procuro um devaneio
e nada acho
- é todo em vão
o meu silêncio argento
Nada diz tua palavra muda
Tu sempre aí
à minha frente
e eu,
eu sempre aqui
tentando decifrar
desesperado enigma