AMOR EM OUTRAS ÁGUAS

Sou poesia — tudo sou:

pedaço de cimento,

batom cor de carmim

Tudo sinto em mim —

— amor em outras águas,

tristezas d’outras mágoas

— corro que nem jaguar

Evito o curare

Sou vôo tanajura,

cio de barata

cascuda de outras rimas

Canto com o acauã,

recuo da cotia

sendo somente poesia

Cala caju do mato

que estou pra refletir,

correndo como jibóia

Piando qual coruja,

lavo piranhas loucas,

contemplo juruás

e chupo maracujás

Regendo jararacas,

reflito sururús

Maduro açaís,

nasço viúva negra,

transporto tartaruga e

carrego calundú

em forma de calunga

Se isso muito me aperta,

não é que tudo dói?

Jazo caranguejeira,

levanto outra saúva

Machuco o curanchim,

fisgando pirarucu,

comendo meia jaca

Sou chifre de veado

bebendo jurubeba,

piando jurupocas

Faço amor na piroga

por cima da pororoca

e flutuo em nuvem branca,

alva que nem pipoca

© Fernando Tanajura

Ambassadeur de la Paix - Brazil-USA

“Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix"

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