Quem és tu, mortal?

(7 Jun 2004)

Quem és tu, mortal?

Que acusas, julgas e condenas

Sentencias a mais dura pena

Lançando o infeliz à arena

Para do alto observar a cena!

Estais acima do bem e do mal?

Quem és tu, mortal?

Não respeitas a vida de ninguém

Que expões segredos de alcova

Do alto, só o olhar de desdém

Sem haver ninguém que o demova

Do seu incólume pedestal

Quem és tu, mortal?

Que te julgas superior

Crias o teu próprio barema

O usa sem qualquer pudor

Punes: mordaça e algema

Só para o gozo pessoal

És tu o umbigo do mundo?

És tu o buraco profundo

Por onde as coisas se vão?

Ou só descarregas ao lado

O teu sentimento frustrado

Toda vez que te falta o chão?

E em teu tosco devaneio

Não apresentas respeito

Pelo sentimento alheio

Fazendo tudo a teu jeito

Feres, sem menor receio

Da causa ou do seu efeito

E vendo você, meu jovem narciso

Seguro de si, à beira do abismo

Eu me divirto e controlo o meu riso

Pois esquece, não vê,

Na sua falta de ciso

Que até eu, um deus do Olimpo

Já fui colocado no ostracismo