ESPECTRO DO PASSADO... ( Terror em Poesia...)
Espectro do passado que apareces em minhas noites sem lua,
O que queres aqui?... Quando vivo, te dei meu amor: vivi por ti!
Quando te foste, foste para outros braços,
Mesmo assim, vazios os meus abraços,
Ansiavam por ti...
Morreste em pleno carnaval, do modo que escolheste:
“A vida é um festival: preciso aproveitar!”
Não quiseste o mais puro dos amores
Querias possuir as flores, enganar
Todas ao mesmo tempo! E só
Te foste, então, em meio à festa!...
Morreste do modo que viveste!
– Não me atormenta mais!!
– Chorei teu luto! E os anos se passaram
Achei um novo amor. E então
Tu vens agora do mundo das trevas,
Assim, me atormentar?...
– “Tu eras minha Musa! A mais querida!”.
“As outras, passatempos, mariposas”,
“Que se desvaneciam logo de manhã!”
“Tu, eras tu que me inspiravas”
“Apesar de minhas aventuras”
“Somente a ti, minh’alma é que buscava!”
“Nem ao velório, sim, não foste!!”
“Eu te disse:
Te amo, meu amor...e "para sempre"!
É, o meu jeito de amar: é diferente!
Mas a escolhida sempre foste tu!...
Minha Musa de todas as canções”...
– Mas como iria eu ir, se era outra
Que te pranteava, no velório, em desespero?
Vai-te embora, espectro do outro mundo!
Deixa-me em paz, tu és um pesadelo,
Vens do passado a me atormentar. Por quê?...
– “Leva-me flores! Assim redimirás
Minha alma que está sempre a penar
Em desespero por dores que causei
A ti, a quem não eu queria magoar!
Leva-me flores! Assim vou descansar!...”
– Então, ó meu amor, por que me abandonaste?...
– “Já te disse: meu amor é diferente!
Leva-me flores, para minha redenção,
Pois “o Amor” da minha vida, és tu somente!”
Prometi-lhe que iria... então se foi...
Deixei tudo. Parti. Longa viagem.
Nem sabia eu o sepulcro onde ficava...
Após um dia inteiro de viagem
Cheguei onde era uma velha estalagem.
– Onde fica o cemitério, cidadão?
Horrorizado o velho homem disse:
– Não vá lá, senhora, não!
Há um fantasma rondando a escuridão!
Dizem que este homem não tem alma!
Que enfurecido, em uma noite calma,
Bebeu veneno e foi pro Carnaval!
Não vá, é horrendo e não é mortal!”
– Não importa, senhor! Eu mesma vou.
Só indique-me o caminho, por favor!
Comprei as rosas da cor que ele gostava
E, embora entardecendo, lá eu fui.
O coveiro me disse onde ficava
Mas "em três minutos se afastava,
Pois era o escurecer!"
(Não me assustava!)
O cemitério gelado, à meia-luz,
Parecia dizer-me sempre: “Vem!”
Apressei meus passos! E encontrei!!
Uma lápide branca e sua foto...
E escritas as palavras “Voltarei!”...
“Não tenho medo”, pensei e ajoelhei.
Havia flores murchas: a outra esposa,
Há muito o abandonou, pensei!
Com meu carinho e todo o meu desvelo,
Com rosas enfeitei sua morada...
Quis olhar de perto a velha foto:
Já estava toda amarelada...
Então percebi: já se fez noite!
E não havia lua: estremeci...
Ouvi barulhos como um lamento:
Eram as coroas que se batiam ao vento!
Ouvi meu nome, em doce sussurrar...
– Não tenho medo, é meu pensamento!
Juntei as flores velhas, fui buscar
Um lixo onde as pusesse a descansar.
A noite suja estava muito escura.
Ia procurar a saída, mas voltei,
Queria ver ainda a quem eu tanto amei...
Ao menos, numa velha foto...
Vozes soturnas dançavam pelos ares
E muitos vultos, vozes insulares,
Pareciam trazê-los em minha direção...
Uns diziam “Vem!” e outros “Vai!”
Minha cabeça estava em confusão.
Procurei o túmulo, encontrei!
Ele me amava, iria proteger-me!
Fiz sua vontade: eu o libertei!...
Mas ao abaixar-me, em meio à noite escura,
Uma voz conhecida, escutei:
– “Vieste ver-me? E o teu novo amor
Não está contigo? Eu o amaldiçoei!”
Virei-me: era “ele”!... Era ele??
Um rosto putrefato, uma visão do inferno,
A roupa toda rota, com vermes e mau-cheiro,
E um frio gelado, como denso inverno
O rodeava! Cobras e ratos
Saiam do bueiro: avançavam contra mim...
Sua mão descarnada, outrora amada,
Pegou-me o pulso, com garras como ferro
E ele me arrastou com força inusitada
Sacudiu-me frente à tumba, dando um grande berro!
“–Maldita! Eras minha e és só minha!”
(Continuava egoísta e mentiroso...)
A outra mão pegou-me na garganta
E ele ria, e eu ficava tonta,
Atônita ante o inesperado!
Entre-dentes, ele me disse “Canta!”
“Não era para mim que tu cantavas??”
O ar me faltou, faltaram-me as forças,
Senti gosto de sangue na garganta...
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Quando amanheceu o dia, o coveiro,
Amedrontado, como sempre andava,
Resolveu passar naquela tumba.
Horrorizado, caiu numa risada
E até hoje se ouve o seu riso
Naquele cemitério agora abandonado!
Em frente á lápide, arredada um pouco,
Mão descarnada agarrava forte
O pescoço de uma mulher...
Havia sangue dela em sua mão!
O rosto contorcido da defunta
Mostrava que se havia debatido em vão...
Em cada rosa, havia só os espinhos...
As pétalas rolavam pelo chão...
E, à luz do sol, na lápide marcada,
Escrita em letras já esverdeadas:
“Pensavas que eu não voltaria, então??...”
As risadas do coveiro louco
Espalharam-se pela imensidão!!
Nem mesmo o amor tira do inferno, não,
Aquele que a maldade o põe na escuridão!...
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07 fev 2008