RESTO DE NUNCA

Hoje sou domingo e vou enastrar os cabelos,

fazer um penteado de abril e beber sol.

Quero estar no parque beijando crianças

derretidas de lama e lambidas de sorvete.

À tarde quero falar pelos cotovelos

sentada no cais, pescando sem anzol

e invejar a noite que chega desgrenhada e mansa.

È amanhâ; entro e abro o espelho

que desliza na margem da minha esperança;

deve haver no cinzeiro algum bilhete,

sempre resta alguma cinza que soprou

de uma brasa enterrada na mágoa de alguém...

Mas, nada! Nem teus olhos de verbo

traduzirão por entre pautas e claves

o resto de nunca escrito em pó.

Fico vazia de mim, de hoje, de aqui.

Com a fantasia de destino vestida às avessas.

Chaplin
Enviado por Chaplin em 04/02/2008
Reeditado em 05/02/2008
Código do texto: T845870