CANTO DA TERRA
Escuto o canto da Terra
a amadurecer em outras águas
Brasas desnudam peles
em frente às pedras resignadas
como trapos
a rolarem doridos,
a engolir dores de dramas ocultos
Mastigam a minha fome
enquanto arautos
anunciam uma canção sem vivência
Ouço o urro surdo das medusas
que vem do fundo do mundo
misturando o vigor das loucuras cotidianas
em cálices de pedras
— outras paixões despenteadas
aderem sigilos aos espinhos
de raças desnudas
Ao tempo que descubro o sal-gema
do vácuo do mundo,
entre o ranger dos ossos
e a escuridão das noites,
desencavo carretéis de estopas,
redescobrindo o ônix,
o rubi,
a turmalina
e o perfume das boninas
Em círio quase-perfeito,
junto meu ouvido ao chão
— como imã —
querendo escutar com gana
a cadência do canto da Terra