TARDE DE CHUVA

Tarde de chuva

O dia ficou tão feio

Como o dia de uma saudade triste.

Dia de enterro... Dia de lágrimas!

Lágrimas que voavam aos céus

E desciam a terra em gotículas

Que molhavam as cabeças confusas...

Eu me lembro dos enterros que surgiam

E que voavam pela minha rua

Uns choravam, outros sorriam...

E alguns tão cabisbaixos iam

Levando o caixão pela cidade

Que parecia voar pelos céus

Para decolar no cemitério

Debaixo de uma chuva fina e fria

Persistente... com som dolente.

Eu gravara na minha tenra mente

Essas imagens que me pareciam fantasmas

Eram vozes misturadas com soluços e risos

Que se uniam ao barulho da chuva que caía

Insistentemente, nostalgicamente.

São lembranças da infância

Que permanecem ainda fortes em mim

Lembranças tristes, dormentes...

Aquele cheiro de chuva

Vontade de tomar banho...

Cheiro de terra molhada

De flores despetaladas

Misturadas entre a dor e a alegria...

Eram cenas de um desfile estranho

Em que uns riam e conversavam

Outros, a lamentar, choravam...

E eu voava sem asas através da chuva...

Escondia minha tristeza nas cores do arco-íris.

Depois do cortejo mesclado de riso e choro

Tudo voltava ao normal

Com o pensamento de morte na janela.

E a saudade estranha... a comoção

Saudade daquelas tardes de chuva

Que se perderam nas curvas

Do meu pequeno coração.