FENECECIDO
Ele já pernoitou em algo pior que um pedaço, sujo, de pano
Dormiu no próprio chão.
Foi tratado como excremento humano,
Um esculacho insano, já comeu sopa de papelão.
Descendente de escravos africanos,
Bebeu água de chuva usando, como copo, a própria mão.
Sobreviveu a “todos” os desenganos
Um simples fulano que alcançou redenção.
Resistiu, sem sequelas, a várias mazelas e a rejeição dos ufanos
“Cria” da favela, honrado, sem qualquer acusação.
Nem tráfico, nem roubos e nem furtos ou qualquer tipo dano
Só assaltou a emoção e foi tomado de assalto pela comoção
Proibido de viver um amor correspondido, considerado profano,
Não resistiu a sua cerceada, imensurável, paixão.
Não acordou mais após dormir outra noite de um desiludido cotidiano
E não foi infarto, vaso obstruído, não morreu do coração.
Morreu “de” coração!