Ciclos
Vou mudar de endereço
Comprar outro remédio
Mudar o transporte
Tirar meu passaporte
Quero viver de forma diferente
Ficar surpreso ao olhar pro espelho
Não me assustar com a chegada de outro janeiro
Não olhar a morte com tanto pesadelo
Vou mudar de bar
Escolher outro prato
Conhecer outra banda
Viajar no final de semana
Os ciclos são passeios que se esgotam
Não adianta pedir bis
É melhor ostentar uma cicatriz
Do que mofar em estradas antigas
Ao som dos mesmos bem-te-vis
Vou comprar outras roupas
Calçar outros sapatos
Talvez eu me arrisque no teatro
Ou aprenda a dançar
Posso cantar uma canção mais moderna
Olhar o trabalho por outra perspectiva
Declarar-me pra uma amiga
Roubar-lhe um beijo numa esquina antiga
Vou tentar sufocar a velha rotina
Ela vem enforcando minha vida com uma programação repetitiva
Todo dia eu faço tudo sempre igual
E nesse deserto minha criatividade é imersa numa nova era glacial
Quero uma balada nova
Quero um velho blues
Um museu com novidades da cidade
Preciso contar as histórias dos verdadeiros heróis
Abrigar-me do frio com outros lençóis
Romper a cortina de fumaça
Suspender a queda livre
A mudança é um matagal inculto
Quero achar o caminho das índias
Tomar banho no riacho
Ser um bandeirante pacifista/moderno
Preciso conhecer outra cidade
Estabelecer o paradigma da fugacidade
Distribuir livros e bilhetes em cursos de leitura
Escrever cartas pra ninguém
Ler algo de Jerusalém
Estabelecer uma nova escritura sagrada que faça ode à vida profana
Os ciclos são estações fluídas
As certezas são maquiagens frágeis
Quero fazer tudo isso
Mas talvez eu fique só na vontade
Amanhã tudo mudará
O mundo é um bosque cheio de saudade