Ciclos

Vou mudar de endereço

Comprar outro remédio

Mudar o transporte

Tirar meu passaporte

Quero viver de forma diferente

Ficar surpreso ao olhar pro espelho

Não me assustar com a chegada de outro janeiro

Não olhar a morte com tanto pesadelo

Vou mudar de bar

Escolher outro prato

Conhecer outra banda

Viajar no final de semana

Os ciclos são passeios que se esgotam

Não adianta pedir bis

É melhor ostentar uma cicatriz

Do que mofar em estradas antigas

Ao som dos mesmos bem-te-vis

Vou comprar outras roupas

Calçar outros sapatos

Talvez eu me arrisque no teatro

Ou aprenda a dançar

Posso cantar uma canção mais moderna

Olhar o trabalho por outra perspectiva

Declarar-me pra uma amiga

Roubar-lhe um beijo numa esquina antiga

Vou tentar sufocar a velha rotina

Ela vem enforcando minha vida com uma programação repetitiva

Todo dia eu faço tudo sempre igual

E nesse deserto minha criatividade é imersa numa nova era glacial

Quero uma balada nova

Quero um velho blues

Um museu com novidades da cidade

Preciso contar as histórias dos verdadeiros heróis

Abrigar-me do frio com outros lençóis

Romper a cortina de fumaça

Suspender a queda livre

A mudança é um matagal inculto

Quero achar o caminho das índias

Tomar banho no riacho

Ser um bandeirante pacifista/moderno

Preciso conhecer outra cidade

Estabelecer o paradigma da fugacidade

Distribuir livros e bilhetes em cursos de leitura

Escrever cartas pra ninguém

Ler algo de Jerusalém

Estabelecer uma nova escritura sagrada que faça ode à vida profana

Os ciclos são estações fluídas

As certezas são maquiagens frágeis

Quero fazer tudo isso

Mas talvez eu fique só na vontade

Amanhã tudo mudará

O mundo é um bosque cheio de saudade

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 04/02/2025
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