Coruja
Pousado, nos seus olhos enormes
Vendo o mundo nas sombras passar como despercebido
Especialmente, lembrança do que nunca aconteceu,
Entrando num ônibus migrante dos Andes
Soluçando lágrimas no vento enquanto corre,
Voa, da noção mais profunda
Desejo de voltar pra casa
Pousado nas órbitas enormes
Com uma asa circulante da noite negra
Queda desmembradora em espiral à Júpiter
Que sonho estranho de sonho que não se vê
Apenas se sente, se intui, aproximando-se
Da ausência da imagem da luz do sonho
Pousado n’árvore-mãe
Um sono pesado durante o dia da vida
E acorda a noite com seu pio cortante de choque
O rasgo diário com a realidade traidora das horas
Grandes porções de sua vida foram jogadas fora
E a memória é um relâmpago que costura o céu
Da loucura e da identidade
Pousado no céu-mãe
Melhor pousado que em qualquer outra coisa
Quando saúde não poder ser, saudade
E distância não poder ser, vontade
Migrante, partinte, metade, conjura
Reuniões de estranhos dionisíacos
Nos vales do encontro ao acaso de vinho
Se não a claridade, celebramos a agonia!..