O Espelho de Narciso

Deparo-me com o portal

A porta

Eis que bato

Ninguém abre

Torno insistir

Nada

Sem convite

A torrente empurra

Entro

Uma escada

Muitos degraus

Noite escura

Não há paredes

Nem piso

Nem teto

Só espelhos

Quebrados

Os meus olhos são a luz

Subo

Desço

Volto

Não caio

São muitos

Espelhos

Degraus

Eu mesmo

Tantos de mim

No labirinto

Os pés vacilam

Só enxergo o que eu vejo

Dança das horas

Um perfume agradável no ouvido

Respiro

Sinto

Não vejo

Me entrego

Beijei minha própria face

Topos os sabores estavam lá

Um lampejo

Roupas espalhadas

Corpo nu

Dioniso responde pra ele mesmo

Centelha de vida

É Baco!

Os pedaços se agrupam

Espelho reformado

Sem degraus

Um caminho reto

Muitos de mim

Narcisos

Quem eu sou?

Belo de mim mesmo

Um só

O sol brilha

Dentro ou fora?

As luz não ofusca mais

Tragou-me

Consumo de desejos

Fragmentos

A face acaricia a mão

A porta se fecha

Esplendor

Voltei

O espelho virou do avesso

É o reflexo que observa a imagem

Tempo sem tempo

O Cosmo

C'est la vie!