Heteronômios na vida

Somos todos heteronômios na vida,

Nomes e sobrenomes não escolhidos,

Herdamos de nossos genitores,

Corpos, etnias, gêneros que emanaram,

Sem escolha, como em um sorteio,

Quando adentramos espaços virtuais,

Redes sociais, blogs, sites e o Recanto,

Descobrimos que como Fernando Pessoa,

Somos todos heteronômios na vida,

Alguns criam novos heteronômios,

Vivendo em um novo universo de contato,

Para a comunicação com o exterior,

Mas nosso heteronômio somos nós,

É parte de quem somos, na escrita,

Na expressão, no sentir, no pensar,

Mas, somos mais que um heteronômio,

Porém, nosso heteronômio está em nós,

E conseguimos sentir fechando os olhos,

Abrindo o terceiro olho, o sensitivo,

Nos permitindo "ser" e não "ter",

Ampliando nossas limitações,

Sendo capazes de se encantar com essências,

Criar conexões profundas com almas,

Porque o que vemos do lado de fora,

São cascas, aparências, que se deterioram,

São efemeridades, perecem com o tempo,

Enrrugam, envelhecem mal, adoecem,

Perdem viço, morrem, são superficiais,

Mas o que está dentro são nossas almas,

Energia, luz, força, sensações, eternidade,

Usamos cascas para andar sobre o mundo,

Um mundo frágil, de banalidades,

Para o qual somos enviados à um teste,

Para cumprir missões, exercer papéis,

Descobrir quem são as pessoas,

Que nos cercam, quem são além das cascas,

O que elas entregam em sua existência,

Por isso, o que importa de verdade,

É o que está em nossos interiores,

A beleza não está em rostos ou corpos,

Por mais academias e filtros que usem,

Por mais maquiagem e cirurgias plásticas,

A "boniteza" da vida está nos sentimentos,

Em ter uma sensibilidade sincera,

Em ter um caráter humanizado,

Em ser uma alma preocupada,

Que se importa, que ajuda,

Que sorri para um mundo triste,

Que acha leveza na melancolia,

Capaz de enxergar outras essências,

Não se aprisionar em suas cascas,

Não se tornar cegos ao que tem valor.

Poucas pessoas entendem ou sentem,

As pessoas preferem se iludir com o espelho,

Preferem se iludir com o que querem ver,

Criam expectativas irreais, lamentos,

E tentam se justificar em fantasias,

Perdem a si mesmas e às demais ao redor,

Caminham por labirintos dos quais não saem,

Porque não se encontraram e sequer,

Encontrarão quem procuram,

Porque quem procuram é o heteronômio...