Luar.
É impressionante imaginar que estamos sob a guarda do mesmo luar. Temos o mesmo privilégio do céu, andamos sob o olhar da mesma lua. Não importa o quanto fugimos e buscamos, ela está sempre lá, silenciosa e fria em todas as noites e dias.
Indiferente aos nossos esforços e sonhos, ela não se importa nem se move. Continua lá, na sua infinita grandeza e mistérios. Enquanto nós, fingimos uma evolução indispensável. Pois temos pouco tempo para essa farsa; logo, ela vai nos tirar seu brilho.
Vai nos cobrar cada segundo de sua plenitude. Alguns de nós, de olhos vendados por uma vaidade pulgente, seremos tentados a não perceber sua capacidade de definir o que podemos aproveitar de sua gentileza noturna e tudo que podemos devolver em sua acolhida diária.
Devemos sim aproveitar sua ausência, breve e vingativa. E para os amantes, ela é cruelmente o único "helo" em noites de solidão cortante, com apelos por uma centelha de atenção.
Poetas impuros desafiam seu brilho, arriscando defini-la, sem levarem em conta sua inconsistência fase a fase. Perdem tempo e desperdiçam palavras e rimas numa interminável batalha de egos e proposições. Nada realmente válido ou relevante, apenas devaneios tirados da vaidade de uma pseudocriação.
Ela, sem interferências dos nossos delírios, se acomoda na sua posição de brilhar; nada a distrai de ser absoluta. A nós cabe fingir, interpretar um bom personagem sob o olhar vigilante de cada luar.