Fornalhas do Rio
Hoje, no Rio de Janeiro, o calor
Veio montado num lagarto de fogo
Com a língua seca de tanto pedir
Água ao vento. Os passarinhos
Aprenderam a comer voando
E até as pedras derreteram
Suas histórias nas calçadas.
A sombra virou mercadoria rara
Vendida a preço de coco gelado
Pelas esquinas da praia.
As areias pisadas estoura bolhas
E as sandálias reclamam de dor
Nos calcanhares.
O calor é um poeta sem juízo:
Transforma suor em prosa, calor
Em delírios. Vocês viram?
O muro ali se inclinou para se abanar
E o vento desistiu de empurrar a brisa.
Parece que o forno veio morar no Rio
E os cariocas? Batem palmas no pôr do sol.