Fornalhas do Rio

Hoje, no Rio de Janeiro, o calor

Veio montado num lagarto de fogo

Com a língua seca de tanto pedir

Água ao vento. Os passarinhos

Aprenderam a comer voando

E até as pedras derreteram

Suas histórias nas calçadas.

A sombra virou mercadoria rara

Vendida a preço de coco gelado

Pelas esquinas da praia.

As areias pisadas estoura bolhas

E as sandálias reclamam de dor

Nos calcanhares.

O calor é um poeta sem juízo:

Transforma suor em prosa, calor

Em delírios. Vocês viram?

O muro ali se inclinou para se abanar

E o vento desistiu de empurrar a brisa.

Parece que o forno veio morar no Rio

E os cariocas?  Batem palmas no pôr do sol.

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 02/12/2024
Reeditado em 02/12/2024
Código do texto: T8210368
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