viagem
procurei minha vestimenta
de maneira displicente
por não mais haver tempo
de colocá-la de forma apropriada
cuidadosamente subi em meu barco
velho e coitado, mas ainda vivo
com seu motor sussurrando suavemente
comecei minha viagem
realmente sem destino
primeiramente passei por uma ilha
vazia de areia branca e água azul
daquelas que só existem na imaginação
seguindo em frente encontrei algumas pessoas
em festa e tristeza disfarçada
no baile eterno do fingimento mal elaborado
sorrindo com dentes amarelos e admirando
seus arredores com olhos cinzentos
posteriormente, com a água e o vento
trazendo vida à minha mente
vi uma criança brincando com seu cachorro
e finalmente pude sorrir de verdade
diante da beleza da honestidade
diante da beleza da simplicidade
eventualmente as nuvens
começaram a se juntar sem seu grupo
como ladrões planejando sua obra prima
seus raios como sorriso
e sua aparência como criminosos
sem intenção nenhuma de disfarçar sua natureza
admito
os admirei por isto
mudei então o curso mas não escapei
da tempestade
em meu infinito desejo de invisibilidade
finalmente fui visto
justamente por aquilo que poderia me
destruir
a chuva não foi gentil
rasgou minha pele
e me fez sangrar
me fez lembrar o que realmente é
o inesperado da vida
mas meu barco se recusou a parar
até finalmente alcançar a calmaria
onde nada mais havia para se ver
ao redor
então me deitei e ofereci meu olhar
ao infinito e gentil azul do céu
este que não se recusa e nem se desvia
de minha paixão
foi uma curta viagem
mas ainda assim uma viagem
digna de registro
e por mais que o tempo o destrua
minha mente a guardará com carinho
até que esta
por mim
seja destruída
e tudo isto
seja para sempre
destruído e esquecido