Wicked Game
Hoje eu acordei de um sonho.
Um sonho bobo, sem cores, sem som.
Havia uma casa na beira do abismo,
Onde se vendia algodão e palitos.
O algodão era sem cor, os palitos também.
Quem vendia, não conheço, não vi o rosto.
A casa era pequena por fora e imensa por dentro.
Sei disso porque entrei para ver o sofá.
O meu cachorro de três patas não mancava mais.
Eu não consegui ler o que estava escrito nas paredes.
O algodão virou algo tão doce, que nem comi.
Entrei no ônibus e me sentei no lugar do motorista.
Não alcancei o freio, nem via nada na minha frente.
Pulei dele e me vi na grama seca, sem água.
Não chovia, não ventava, era só a grama e eu.
Nem precisei pensar, meu cachorro apareceu.
Meus bolsos estavam cheios de areia.
Comecei a andar nas pedras e olhar para o mar.
A tempestade chegou.
Me encolhi debaixo do guarda-chuva.
Fechei os olhos.
Acordei.
Olhei em volta.
Não vale a pena acordar.
Voltei a dormir pra ver se recomeçava o sonho.
Havia uma casa na beira do abismo.