Wicked Game

Hoje eu acordei de um sonho.

Um sonho bobo, sem cores, sem som.

Havia uma casa na beira do abismo,

Onde se vendia algodão e palitos.

O algodão era sem cor, os palitos também.

Quem vendia, não conheço, não vi o rosto.

A casa era pequena por fora e imensa por dentro.

Sei disso porque entrei para ver o sofá.

O meu cachorro de três patas não mancava mais.

Eu não consegui ler o que estava escrito nas paredes.

O algodão virou algo tão doce, que nem comi.

Entrei no ônibus e me sentei no lugar do motorista.

Não alcancei o freio, nem via nada na minha frente.

Pulei dele e me vi na grama seca, sem água.

Não chovia, não ventava, era só a grama e eu.

Nem precisei pensar, meu cachorro apareceu.

Meus bolsos estavam cheios de areia.

Comecei a andar nas pedras e olhar para o mar.

A tempestade chegou.

Me encolhi debaixo do guarda-chuva.

Fechei os olhos.

Acordei.

Olhei em volta.

Não vale a pena acordar.

Voltei a dormir pra ver se recomeçava o sonho.

Havia uma casa na beira do abismo.

Neilton Domingues
Enviado por Neilton Domingues em 10/10/2024
Código do texto: T8170368
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