O semeador
A passos lentos sobre uma terra seca, adornada por árvores desfolhadas sob o sol de brilho atroz, pisava o homem de pés descalços e testa gotejante, aquele cujo suor ardia os olhos e salgava os lábios; contemporânea solidão, inconformado coração.
Se ao menos houvesse um peixe onde pudesse o seu lago distrair aquela mente; se ao menos à margem encontrasse sinais de esperança, ainda que parecessem apenas gravetos inúteis à beira do caminho, os apanharia como um ato de sabedoria; sim, num ato de sabedoria, a considerar que lá na frente poderia haver um "talvez".
Rapinantes voltaram rastejando, rastejantes queixavam-se do horizonte, pois nada encontraram além de um dia após o outro, o réptil perdeu-se pelo caminho, a ave amargurou-se no fim da estrada; quanto ao caminhante, seguiu em frente, angustiante sonolento aos olhos do coração que sente; porém, persistente seguindo em frente.
Lá se vai o apanhador de expectativas, o sonhador exalando desatinos, espetando-se em agruras, seguindo na contramão, desviando-se da amargura. Sentou-se então a refletir, e à beira do caminho se pôs a questionar, chegando a duvidar se poderia de fato chegar a algum lugar.
Por um momento, deixou de lado tudo o que até ali conduziu; ridicularizou-se e deu-se ao luxo do desânimo, sem perceber que na verdade, semeava ele a tal esperança; sim, as esperanças às quais tanto se dedicou, pois não percebeu o apanhador que era antes de tudo um semeador.