CORVO


Morri mil vezes...
Morri sentindo o peso do asfalto,
a ferida aberta, qual fissura do mundo!
O corte,
a dor,
a ausência,
a morte ao lado,
como sombra a perseguir-me.

Uma luz tímida reluz serena
sobre os altares fúnebres.
O fundo abstrato da penumbra,
a beleza já esquecida
na lápide do meu coração empoeirado.

O cheiro frio da lama é um refresco
reconfortante dos dias penosos;
dias de um vazio sombrio do meu mundo,
segundo a retina dos meus olhos.

O corvo voa silencioso
como a eternidade esticada no céu
de inexistência completa e absoluta.
Não há melodias, não há sons,
apenas um batido fraco
de um coração moribundo.

Os rios secaram...
Em suas margens
de águas leitosas e mal cheirosas,
respiro o homem e sua ambição
numa realidade total do homo sapiens,
de aventura precoce, sem limites
à própria destruição.

Academia Betinense de Letras
Enviado por Academia Betinense de Letras em 12/01/2008
Código do texto: T814065