Fizeram-me de quê?

Nem sei se sou ou se fui,

se gosto ou se detesto,

se faço poema ou se sou um verso,

se ainda vivo ou se já morri.

Engana-me o mundo e eu a ele

em um torvelinho de sabores

mas quando choro encontro amores

nos labirintos sorridentes do meu peito.

Dentro de algum lugar vivo descascado,

coberto de desejos e louco por afagos

desenhados em amores nus.

E o mundo eu vejo assim desse jeito

por dentro dos foras,

nos esquerdos dos meus direitos

onde a sombra do céu me enfeita e queima

e os anjos me maltratam

e a voz me cala

e o mundo eu sigo

e não há maior perigo

de eu descobrir algum dia

de que sou feito.