O CATIVEIRO DA ALMA
No horizonte o sol se põe, prenúncio de uma longa jornada. São três horas de caminhada por uma trilha estreita, de mata esverdeada e cheiro de terra molhada.
Chego na beira do rio, um barco a minha espera,
são duas horas de travessia, cheia de perigos,
correntezas e ventanias.
Quem conduz a pequena embarcação é a liberdade, dona de si, cheia de autoridade.
Observo ao longe, na margem,
a esperança recobrando os sentidos, ofegante,
quase se afogou, mas, um pescador de sonhos a salvou.
Lá na frente, cruzo com outra embarcação,
que segue em sentido contrário,
nela estão o passado e a mentira,
que acenam para mim em tom de despedida.
O silêncio noturno vai me conduzindo ao abismo,
que antecede o inóspito destino.
São mais cinquenta metros de descida, entre espinhos e folhagem, dores e saudades, dúvidas e angústias, medo e coragem.
Aproximo-me do cativeiro. Hesito!
Um sopro forte da memória e já estou lá.
Uma caverna ainda úmida, das lágrimas antes derramadas.
Logo na entrada, na parede com figuras rupestres, o remorso e o ressentimento estão acorrentados,
em um canto recuado, no chão brota a flor do perdão, mas, ela ainda é um pequeno botão.
No caminho encontro uma companheira, a resiliência, porém, a sinergia é interrompida pelos morcegos da culpa que exigem penitência.
Agora está um breu total, sufocante, delirante,
sem sequer saber onde pisar, preciso correr.
Na ausência de forças, ferido e machucado, penso que chegara o meu fim.
Porém, lá longe avisto uma pequena fenda, que dela resplandece uma luz, ainda pulsante, até ela o coração me conduz.
Pela fenda os olhos conseguem ver um belo jardim, com plantas raras e flores de jasmins.
Também por lá árvores de lealdade com frutos de amizades, mudas de cumplicidade, plantas de reciprocidade, autenticidade...
Neste jardim descubro o bálsamo para minha dor, minha alma se reencontra com a mais rara flor, a flor do amor.