Eli Eli (em fluxo de consciência)

Tudo originando matei alguém para a luz dos pensamentos

acorda acorda coração de fogo

encontra os lugares onde a liberdade faz ninho

e a esperança tenha mais doçura

porque hás de varar madrugadas

em busca de algo sólido

e fingir que estás dormindo

chegarás à confluência de muitas águas

e encontrarás gente, vida e novos nascimentos

e ainda assim trabalharás o teu arado

onde exporás o teu diamante e a tua ossada

proclamando que o mundo vai além da realidade física

não te cansaste da brincadeira dos sonhos

mas terás que te levantar para aquela dança mortal

que realizas na presença do sangue e nuvens muitas nuvens

que não encaras

e fazê-lo tudo em tom de festa, alegria, insujeição

transvigorar montanhas

o solo por onde escapa tudo o que é meu pelas minhas mãos

e me devolve pelos meus pés

e tentar explorar, descrever uma realidade

e dormir inconstante, fugidio e alerta

às sentinelas da noite

abrem-se portões e guardas com cães

tudo pela defesa de um bem pessoal imaterial

que se chama orgulho e transmutação interior

como atirar uma pedra em um lago

e ver surgir um dragão

sair uma cobra de um ovo

ver surgir uma criança que te espia atrás da pilastra

e escrever tudo em radiografia psicografando

cansando de ecos tudo o que a realidade diz

é que a liberdade, como todas as “ars”, não é uma ciência

e que há psicologias internas da beleza, do ódio e da festa,

há crimes a serem cometidos,

há psicologias a serem abandonadas

que há projetos teus que admitem se não a maior truculência e raiva

que se chama destino e necessidade

mas sobretudo ser isso aquilo que eu não queria dizer

que está, que sai pela boca, pelas mãos feito sémem

fluído corpóreo ou suor da madrugada

nada cabe se a alma não está envolta

em nuvens enormes de desconhecimento

na verdade essa confusão que paira no ar é a própria truculência

aquela que me arrasta até o vale

aquela que deve ser arrastada até o cume

até perder de vista a face cruel

e se tornar sémem, suor e juventude

como uma voz que descreve não explica

a profanação do meu corpo

a festa bárbara para qual não fui chamado

e fazem cinzas de mim:

Cheguei cheguei Eli Eli

Eli Jardel Alexandre
Enviado por Eli Jardel Alexandre em 21/11/2023
Código do texto: T7937025
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.