A Sociedade absurda de reabilitação para viciados na realidade
Na esquina do cruzamento entre as ruas
Que vem direto da avenida no primeiro quilômetro
No quartinho no fundo de um bar pacato
Chefiado por uma velha meio ordinária
A famosa proprietária que contava vantagem
De sua esperteza advinda da idade
Pouco sabia da passagem escondida atrás
Do segundo mictório da direita para esquerda
Empurrando-o sem querer era um bêbado de joelhos
Vomitando algo que um dia chamou de almoço
Na moleza do corpo refletida sua desgraça
No acaso de estar no lugar certo na hora errada
Deu-se de cara com A Sociedade e na nuca suada
O cano frio de uma arma nas mãos tremidas
Do vigilante magrela coberto de de um terno
Quente para um caralho — pensou.
Lá dentro não tinha sentido algum
Semelhante a vida
E em pensamento jurou como nenhuma
reabilitação poderia fazer, a bebida
Cortar-lhe as amarras que o prendia.
As paredes d'A Sociedade eram grandes
Feito pé direito alto de um gigante alejado
Pé esquerdo vomitado com bala alojada
— Meu caro, me perdoe, sim?
No susto a gente faz coisas meio precipitadas
— Claro, claro. Mas é uma falta de tato com a velha
Um grupo, ouvindo o estrondo, vinha ver.
A velha surda no bar do cômodo ao lado
Sorria com os velhos fingindo serem mudos
— Enrola alguma coisa aí, vai infeccionar
Inflamar, necrosar, gangrenar. Ou pode até quem sabe
Pegar uma gripe
— não gosto de ficar gripado — vomitou a janta
Da noite passada
— também não, mas por essa sorte sua aí, você deve ter
Tocado num gato preto, chutado uma grávida
Rolado 4 dados, passado em baixo da escada
— não. Algumas vezes. Não. Eita, foi isso.
— e não repassou? Para reverter o azar
Orar umas Marias, uns Pai nossos, um terço
Um quarto, uma história, ironia?
— eu pensando na matemática não repassei
Eu voltei. Dada a volta: passei de novo
Pensei que menos com menos dava mais
— e quando foi que usaste báskara
Regra de três, porcentagem, Pitágoras?
O grupo vinha lentamente, vestidos de roxo
De cima a baixo. O ar questionador
Pouco condicionado — quente, quente
Do contrário deve estar do lado errado
— 7 - 3 dão 4... e eu acho que 1 + 1 da 0
— é, acho que sim, já vão quatro litros a fora
E uma bala acaba com a matemática