O berço
Raízes ancoradas
na bacia das algas
nos diferentes tons de lodo
fincados na alma
da estátua de Vênus
Raízes ancoradas
na parede do muro verde
de tinta descascada
espalhadas pelo cascalho
dum desativado clube recreativo
Âncoras ramificadas
nas pedrinhas coloridas do aquário
bordadas em quepes e camisetas
vendidas nas barraquinhas de feira
de qualquer cidade litorânea
Âncoras ramificadas
devorando embarcações
afogadas no coração
do desaparecido marinheiro
enferrujadas nas profundezas
dos sete oceanos
Raízes ancoradas
no trigo, no milho
no peixe que respirou em terra firme
no berço da civilização
e nos barulhentos e coloridos penduricalhos
que acalmam o choro do bebê