FIRMAMENTO (poema à la Salvador Dali)

Escada profunda

que se interpenetra

e se perde

nas profundezas

infindas de si mesma.

 

Trilha de sonhos,

loucas visões,

delírios multicores

e devaneios pré-sentidos,

pressentimentos

e ressentimentos tormentosos.

 

A morte ronda o caminho,

não se achega,

volteia... revolteia...

apenas ronda...

e os sonhos geram,

em cadeia metafórica,

quimérica,

estratosférica,

muitos outros sonhos.

 

As trilhas trilham

caminhos vários,

infindos,

e, durante o tempo todo,

se partem

e se repartem

e se juntam

e se partem...

 

Luzes pálidas cegam

olhos míopes embaçados

e a vida se contorce

e se explode em mil pedaços,

vomitando mais sonhos,

alegrias delirantes,

risos fantasmagóricos...

 

Uma nuvem solitária caminha

no espaço vazio,

levando consigo uma vida,

uma imagem,

choca-se no horizonte

e morre sozinha,

soterrada...

 

E eu aqui,

em solitária solidão,

buscando palavras,

juntando cacos,

neste insano patchwork,

só me lembrando de Noam Chomsky:

Colorless green ideas sleep furiously.

 

Na real: tudo parece mesmo

fora de qualquer lugar,

em todo e qualquer lugar;

os sonhos sempre (sempre?)

e a vida (sempre?) muitas vezes

apresentam-se em nonsense total,

(ir)realmente...

 

 

Zildo Gallo

Americana, SP, março de 1975.