SORTILÉGIO
Por trás das grades de dentes,
Escondido em um sorriso tranquilo
Resfolega o animal furioso,
Cuja face se esconde
Por trás das janelas dos olhos,
Mancha negra na íris azul,
Quase imperceptível.
Seu rugido reprimido
Quer explodir peito afora,
Mas não – não é permitido,
Ou quem sabe, aconselhável,
Pois isso seria mal visto.
O animal acuado
Aparentemente manso
Dilacera em mil pedaços
Com a força do pensamento
Sua vítima distraída
A qualquer momento.
Sobre as costas do animal
Um sonho que não é seu
Sobre o que não lhe pertence;
Um futuro embrulhado
Jogado no alpendre.
No seio da noite silenciosa
Ele arma um pensamento,
Ele mira seu alvo adormecido,
E atira a fúria malsã.
De repente, alguém desperta
Assustado
Às três da manhã.