Febre da Despedida
Eles dizem que há alguém capaz
Alguém capaz de curar o meu mal
Eles dizem: de todos os pecados, ele é o chacal
Eles dizem tantas coisas
Em suas bandejas, tantas torturas ainda a experimentar
Nas perenes correntes no tempo a me aprisionar
Este poço de infinita fundura esvaziando meu firmamento
Enquanto eu ouço os arrependimentos, tantos são os lamentos!
Maléfico sorriso de máscaras ludibriando-me em tormentos
Pois em graça flamejante o demônio deleita-se numa dança invisível
Em sua rede, tece seu jogo, arquitetura de um vencedor imprevisível
Nas cartas de uma paixão, ocultando sua tragédia indescritível
Sob cerco, até onde a impaciência abraça o fim
Sob cerco, montanhas caem sobre a escuridão de minha inconsciência
Sob cerco, tomo-lhe o ouro, a prata! Iludde-me o prazer na abstinência
Vozes que retornam causando-me negros calafrios
Agora já não me importa o infecto suspiro da meretriz
E no íntimo de minha alma, já não julgo os crimes que fiz
Mãos a tremer! Corpos a ansiar!
Do alto das torres mundanas, a espinha convulsivas sensações produz
Rasgando sombrios lençóis da noite, luz cegante ao abismo me conduz
Pouco adianta negar, pouco adianta resistir
Na neblina, um púrpuro pesar de resignação sangüínea
São os gritos da vida relembrando um passado de nostalgia retilínea
Na febre da despedida, ao fio da navalha nos sujeita o conquistador
Às margens do rio vertendo sangue, um anjo nos conforta da dor
Revelando que só a distância nos aproxima, trazendo o verdadeiro amor