Febre da Despedida

Eles dizem que há alguém capaz

Alguém capaz de curar o meu mal

Eles dizem: de todos os pecados, ele é o chacal

Eles dizem tantas coisas

Em suas bandejas, tantas torturas ainda a experimentar

Nas perenes correntes no tempo a me aprisionar

Este poço de infinita fundura esvaziando meu firmamento

Enquanto eu ouço os arrependimentos, tantos são os lamentos!

Maléfico sorriso de máscaras ludibriando-me em tormentos

Pois em graça flamejante o demônio deleita-se numa dança invisível

Em sua rede, tece seu jogo, arquitetura de um vencedor imprevisível

Nas cartas de uma paixão, ocultando sua tragédia indescritível

Sob cerco, até onde a impaciência abraça o fim

Sob cerco, montanhas caem sobre a escuridão de minha inconsciência

Sob cerco, tomo-lhe o ouro, a prata! Iludde-me o prazer na abstinência

Vozes que retornam causando-me negros calafrios

Agora já não me importa o infecto suspiro da meretriz

E no íntimo de minha alma, já não julgo os crimes que fiz

Mãos a tremer! Corpos a ansiar!

Do alto das torres mundanas, a espinha convulsivas sensações produz

Rasgando sombrios lençóis da noite, luz cegante ao abismo me conduz

Pouco adianta negar, pouco adianta resistir

Na neblina, um púrpuro pesar de resignação sangüínea

São os gritos da vida relembrando um passado de nostalgia retilínea

Na febre da despedida, ao fio da navalha nos sujeita o conquistador

Às margens do rio vertendo sangue, um anjo nos conforta da dor

Revelando que só a distância nos aproxima, trazendo o verdadeiro amor

Isaque
Enviado por Isaque em 15/12/2007
Reeditado em 15/12/2007
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