Soneto surreal IX
Minhas narinas, hoje um chafariz,
Não param de jorrar teimoso muco,
Que me faz enxugar, feito maluco,
A salmoura que desce do nariz.
Meu estro de poeta aprendiz
Escorre, com o muco das narinas,
Como fossem discretas bailarinas
Que, a cada novo espirro, pedem bis.
Assim segue a COVID-dezenove,
À procura dum verso que comprove
Que a poesia ativa a imunidade.
E por acreditar nesta premissa,
Sigo mantendo a pena submissa
Aos meus sessenta e nove de idade.