Soneto Surreal III
Dali, o Salvador, num fio de bigode,
Pintou "a tentação de santo Antônio";
Plantou a cruz de prata do demônio,
Num vaso de Comigo-ninguém-pode.
Dali, se foi daqui, com um neurônio
A mais do que herdou da sua avó:
Um neurônio emprestado de Miró,
Que fez do surreal um patrimônio.
Miró, Joan Miró, o catalão,
Andou, junto a Dalí, na contramão
Forjando, no real, o abstrato.
E eu, que faço versos de improviso,
Olho a "metamorfose de Narciso",
E vejo, sem modéstia, meu retrato.