Tropeiro da Morte
Levanta a poeira
o tropel alucinado,
do corcel endiabrado
do tropeiro da morte.
Junto, cães raivosos,
latindo, babando, uivando
em tétrica sinfonia.
Como rolo compressor,
espumando cristas,
vem tragando almas,
escurecendo o dia.
Ensandecido e voraz,
chega o tropeiro
bombeando raios,
parando rodeio,
apartando vidas.
No quieto repente,
jovens e velhos,
crianças e adultos
enrijecem seus corpos,
suam frio, tremem.
Em algum lugar
escapa um suspiro,
as cabeças se agitam
esperando a escolha.
O bote vem como tiro:
veloz e mortal cavalaria.
No instante do estouro,
sem glória ou galhardia,
explode a tropa ao vento,
buscando escapar
do derradeiro momento.
Entre rodadas e atropelos,
gritos, latidos e poeira,
selam-se destinos,
consagram-se ladinos
até o Sol se por.
E no cenário de horror,
finda a macabra ação,
resta o silêncio dos mortos,
o grito desesperado dos vivos,
o sangue estampado no chão.
Ao longe, segue o tropel
alucinado da morte,
prometendo, no retorno,
com poeira, pata e corte,
confirmar o destino cruel.
Inexorável certeza,
que nos chega
como a luz
de uma vela acesa,
nos olhos fundos
e cansados,
que fitam os vazios
que povoam as lajes
caiadas dos cemitérios.