Penúria de sentimentos
Eu estive muito tempo procurando aquilo que nunca vou encontrar.
Talvez eu realmente não encontre e tudo que há de bom nesse mundo seja apenas uma farsa.
Em meu último desfecho, despedi-me daqueles que eu vos considerava fiéis e dignos a tudo que passaram comigo.
Em um testamento negligenciei palavras que me remetia a falsa esperança de amor, fui afável com o menino sonhador quando jovem e extremamente severo com o homem o qual me tornei.
Em uma carta escrita a punho, me desfiz de tudo que era real na minha concepção suicida e tudo que fazia sentido no meu inútil mundo de repressão e ilusórias rebeliões mentais.
Por covardia e medo da morte, não pude me submeter a algo que fosse cruel e que me permitisse falhar, me destruí de forma melancólica porém sutil a ponto de ser admirável.
Porém, ao me ver incapaz de interagir com o mundo real me arrependi de ter interrompido todos os meus sonhos de homem feito e me dispus a reflexão de que meu sofrimento não iria embora por completo... Vi tudo aquilo que gozava como bom e belo do mundo se transformar a tardes de melancolia daqueles que deslumbravam da minha presença.
O tempo passara e eu ainda não havia me habituado com meu ser espiritual, nada parecia concreto e as pessoas das quais eu sentia falta de interagir já não eram mais tão amistosas como eu as enxergava antes... Observei que afinal de contas, todos viviam com seus pesadelos e sonhos com a mais completa apatia.
Em algum determinado momento meu nome era citado... Vezes para o bom assunto e vezes para o mal, porém sempre havia um ar de saudade que me remetia a esperança de que alguém realmente se importou comigo.
Ainda mais tempo se passou e não sei exatamente quando mas me lembro muito bem de ter ouvido alguém dizer que sentia minha falta e essa foi a última vez. Todos deslumbravam de suas vidas, das suas alegrias e tristezas, dos sentimentos profanos que sentiam.
Quanto menos as pessoas se lembravam de mim mais eu me afastava e inevitavelmente houve um momento no qual me desfiz totalmente daquela realidade que me reprimia... Vi que esse mundo não cabia realmente naquilo que eu acreditava estar fazendo correto, vi que a felicidade é relativa e o bom deus escolhe a quem vai submeter isso.
Vi também que não acordei, não era um sonho e assim pude perceber que minha escolha não fora errada e que todos estavam melhor sem minha presença... Inclusive eu.