Morte e Vida Paulista ou Falta Uma Noite de Verão Para a Morte de Baco

Corpos turvos pela noite

Ninguém sabe, ninguém conhece

Distorce com sombras e neblina

A fumaça que embaralha personas

Cigarros enquanto panos dançam

Licores entreolham-se sabendo

De sua abstinência decorativa:

Havia uma promessa finda entre eles

Copos de vidro sabiam enfeitar

Noites americanas que mentiam

Roteiros estavam prontos, mise en scène

Recriadas de laboratórios e discursos farmacêuticos

Eu quis pertencer com toda a minha disciplina

A quem esteve em mim para extrair

Fiapos de vaidade, fiapos de glórias

Para fazer malabarismos com a língua com as sobras de linha

A noite se enrola como um algoz

Marcando a visita com seus dentes

Clame em meus olhos um conforto só teu

Intuindo para si o vulto do meu futuro

Receio invadia meus músculos

Mas ninguém ousou atear fogo no asfalto

Ninguém reconheceu meu corpo, mesmo que suas vozes

Fossem tão presentes no fundo de minha memória

Vago nos intervalos que luas de neon

Banham tecelagens em que Teseu mentira à abóboras

Ou Medusa convencida a prestar regimes semiabertos

Aos olhos de Ícaro em êxtase pelo fascínio da descoberta

A avenida prestigia meu samba desacato

Destoando de nomes e navalhas

Desconhecendo o perigo que cada sorriso

A meia luz pode oferecer...

Pierrot Ruivo
Enviado por Pierrot Ruivo em 28/08/2022
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