O portal
No fundo do meu velho armário
recostado no canto do quarto
aparentemente guardado
completamente empoeirado
ostentando desenhos gozados
o encontrei abandonado
Foi nessas faxinas da vida
só por fora concebidas
em mais uma vã tentativa
de começar tudo do zero
que o tomei em minhas mãos
o olhando bem desconfiado
Abri a capa meio sem vontade
mais por pura curiosidade
do que por interesse genuíno
e adentrei meio sem jeito
aquele mundo inteiro
completamente desconhecido
Inédito e ignorado
me encantou logo de início
fiquei por ele fascinado
completamente absorvido
no canto acocorado
devorando cada palavra que de suas páginas iam saindo
Enquanto eu ia lendo
meu sangue ia fervendo
coração quase explodindo
Eu estava dentro dele
e ele estava dentro de mim
nós nos ligamos por inteiro virando um par perfeito, do começo até o fim
Encostei a porta do quarto
e saí meio abobalhado
com o que tinha acontecido
sem empreender nenhum esforço
aquele livro gostoso
de que eu tinha me esquecido
fez uma faxina completa
nessa mente cansada e velha
e nesse coração adormecido
Naquela uma hora ali
uma vida inteira eu vivi
como por passe de mágica
Amadureci bem depressa
e acho que a função é essa
desses portais que se abrem
quando se tem coragem
de viajar pelos livros