A EMBRIAGUEZ DA SOBRIEDADE
Aquele era um tempo ao mesmo tempo futurista e primitivo
homens e seres ancestrais dividiam as lagoas
os cromossomos replicavam-se e divididos em dois
entre as estrelas
as sinapses se revelavam nervosas e apreensivas
é hora do movimento aí galera
simbora! todo mundo pra rua aqui não há preguiça mano
então
os caracóis de fogo davam o ar de sua graça
conchas vazias se enchiam dos moradores do mar
prédios sem fim ao largo das ruas celebravam a queda
de políticos picaretas
as redes sociais ficavam fartas
subcelebridades serviam de iscas
homens e mulheres se tornavam produto de pesca
todos na mesma tempestade embora em barcos distintos
alguns continuavam em becos escuros na noite
chega pra lá mané essa coberta aí é minha
mas tá fazendo frio
outros jantavam em palácios em planaltos e planícies
tem que manter isso aí tá ok?
e eu
o curandeiro louco
andarilho das veredas pela existência
maravilhava-me que as pessoas não mudassem
não enxergassem que há veneno nas palavras erradas
que os fascistas invadiam os lares com suas mentiras
fui parar em campos de loucos
andei com os pés em brasa pelo deserto
mandaram-me ciclones e vulcões mas as estrelas me acolheram
suas lágrimas criaram pontes de cristal
que me salvaram dos psicopatas
ai existência elementar
tanto segui para desvendar meu íntimo até descobrir
a pior embriaguez é a da sobriedade