Conversa informal
Certa vez, encontrara-me
À sombra de uma das filhas
Da ilustre “Mãe Natureza”
Próximo àquelas ilhas
Onde, pensativo estava
No mundo em dor e tormento;
Buscando sem ironias
O porquê em cada argumento.
O vento soprava suave.
Delicadamente tocava-me o rosto.
Olhar vago; meditava,
O que o Ego havia proposto.
Pertinho, pousou uma andorinha
Tentando aliviar o pensar em aflição...
Imaginei, então, que entendi
O porquê “uma só não faz verão”.
Era insuportável a dor refletida
Que, coitadinha da andorinha,
Crendo ter fracassado
Voou para o sul – sozinha.
Então, deixei-me ser ajudado
Pelos amigos na natureza.
Busquei sintonia harmoniosa
Para ouvi-los com clareza.
Foi quando, subiu aos meus pés
Uma pequenina formiga
Qual, fez-me entrever
Toda aquela humilde vida.
Tão forte e tão pequena!
Não era notada, porém, criteriosa.
Convivia com o teu próximo
De forma amigável e harmoniosa.
– Sempre sou pisada
Pelos maiores e opressores. Sou réu,
Entretanto, vivo alegremente
Não dando tanto valor a um papel.
Disse a ela em pensamento:
– É fácil falar mal do dinheiro!
Infelizmente para nós
Um simples papel move o mundo inteiro.
– Raça de hipócritas!
Foi o que disse um passarinho
Que estava a escutar
Adentrando em seu ninho.
– Não me prendo a tais valores!
Vivo livre! Prodigiosa vida.
Vivo da Natureza
E a ela não faço ferida.
Ela dar-me o alimento
E também água torrencial.
Do amanhecer ao final do dia,
O sustento providencial.
... E assim vou vivendo
Diariamente o que sempre quis.
Que pena que o homem não vê
Que “tão pouco precisa para ser feliz”.
– É fácil falar de felicidade
Para você que a tem diariamente!
São tantos cruéis sofredores
Padecendo na vida, amargamente.
– Uma rosa tem beleza,
E tem espinhos para poder se defender.
Disse-me um espelho de pureza
Que veio um sermão fazer.
– Eu, como todas as flores,
Sou suave e delicada.
Triste fico às vezes quando
Vejo a beleza ser maltratada.
Os que dizem racionais,
Machuca, mata, explora...
Por instantes penso que
Tenha chegado minha hora.
A vida está vazia de amor!
É crucífera a realidade.
Vejo uma névoa sombria
Por toda a humanidade.
Ouvi-te desde o início.
Falaste de dor e tormento,
No quanto procurou no mundo
E não achou nele paz e alento.
Talvez não tenhas mesmo achado
Entre muitos seres humanos
Pois, quase sempre perecem
Num vivaz e sutil engano.
Querem vender um conselho;
Fazer-se sutilmente de amigo;
Comprar tua ingênua confiança;
Tirar-lhe o sustento e abrigo.
São poucos os de mente e sã
Entre tantos no planeta inteiro.
Porém, estes se vêem obrigados
A servirem Deus e o dinheiro.
Como um pedaço de papel
Pode gerar tanta briga,
Ameaçando estender uma arma
Ao invés da mão amiga?
Não entendo vocês humanos
De inúmeras maledicências;
Gerando horrores, sabendo
Que sofrerão as conseqüências.
– Muitos procuram ajudar o próximo!
Indaguei então à flor.
– Mas estes que vivem de ofertas
Não cresce em ciência e labor.
– Não podes ser sempre você
Os olhos guia do seu amigo
Pois, se um dia faltares
Ele cairá no abismo.
Cada qual enfrenta a vida
De forma a melhor evoluir.
Pena que a insensatez humana
Ainda sofre para progredir.
Por isso, ainda tenho espinhos
Apesar de minha delicadeza,
Pois, a mão do homem-horror
Não suporta pureza e beleza.
Aliás, nem mesmo suporta
Que mexam eu sua vaidade;
Sempre o maior, o melhor...!
Resistindo insanamente a verdade.
– Então, creres que na verdade
(Disse eu a sublime flor)
Não possa existir felicidade
Onde começa amor?
– Por que pensas deste modo?
O pessimismo não presta!
Responder-lhe-ei em outro momento,
Mas, a você minha pergunta é esta:
“Porque o ser humano
Tem o hábito de colocar
A chamada felicidade
Onde não pode alcançar?”
(04/01/1997)