A execução
A velocidade aumentava
Ser crítico, aptidão desenfreada
O giro dava tontura
O looping era tortura
Quiçá por já ter passado por isto
Prazer sádico que sentiam em sugar o que já era caniço
O capuz era deixado de lado pelo carrasco
Que pela humanidade, orgulhoso, ostentava seu asco
Na guilhotina mostrava toda sua força, no liberar de uma corda
Mas tinha estratégia para defender sua consciência calhorda
Assumia que quem matava era a lâmina
Preservava assim sua imagem magnânima
A gravidade era a vontade de Deus
Mesmo para aqueles de um coração ateu
Restava para aquele que olhava o cesto
Conseguir rir da vitória do grotesco
E sua sobrevivência como protesto
Da humildade e resiliência um manifesto
Ter que não terminava ali a sua luta
Ainda resistia na labuta
Quicando no cesto a cabeça rolava pelo patíbulo
De resto a plateia transformada em prostíbulo
Estavam vendo o sem nexo explícito
Daquilo que vendiam como lícito
A cabeça rolava
A velocidade aumentava
O padre da extrema-unção pulou deixando rolar por baixo
“Nossa, mas que diacho!”
O carrasco correu atrás sem sucesso
A cabeça já rolava pela escada de acesso
Lá em baixo a realidade travou com o pé
Só em poesias você consegue dar um “migué”
Mas neste dia o carrasco desenxavido
Não se mostrou tão exibido
E o gesto de levantar a cabeça decapitada
Como troféu sobre a história contada
Não teve a mesma graça
Não depois que a cabeça lhe fez a pirraça
Parece que a cabeça lhe olhava de cima com desdém
Colocou o capuz e o padre disse amém.