ANDARILHO
A noite me afogou
num dilúvio de saudade
caí em sono profundo
burlei a realidade
me desliguei desse mundo
enquanto busquei a verdade.
Percorri estrada afora
pela vastidão de outrora
no meu embornal só lembrança
de um tempo desmedido
de falsa felicidade.
Estrelas cadentes flutuam
neste céu imaginário
por onde um cometa perdido
vagueia pela metade
pois pra encontrar o inteiro
e o profundo verdadeiro
hei de ser meu próprio guia
num mergulho bem faceiro
prendo minha respiração
nas águas tingidas em cores
num turbilhão de vaidades.
Descobri o desconexo
desbravador de vontades
no sertão da minha alma
sem ter paz e nem ter calma
Andarilho sem ter nexo
conflitei côncavo e convexo
enquanto colonizava
meu coração moribundo
este pobre vagabundo
sem ter casa neste mundo
procurava em meio ao caos
sua porção de coragem.
Agora salto no abismo
sem ter medo
sem ter siso
já posso alçar meu vôo
meus pés mal tocam o chão
só levo em minha bagagem
ao embalar da viagem
nada que me atrapalhe
nem me traga confusão.
Pois pra ser um passageiro
desta nobre embarcação
não precisa ter dinheiro
muito menos ouro ou prata
nem nada que satisfaça
o meu ego ou meu baú
parto firme destemido
sem ser pérfido ou fingido
rumo ao eu desconhecido
vou em direção ao sul.
20/04/2022
10:00h