Demasiada Humana - Tolice - LIX
O que seria
de nós, meu caro
mestre, se não
fosse nossa
teimosia em
brincarmos nas
nuvens sencientes?
Seríamos as próprias nuvens sencientes
que, em apofenias, contam segredos,
revelam imagens.
O que seria
de nós, mestre,
se de vez em
quando, mesmo
que num palco
a dois nos façamos
unicamente humanos?
Seríamos a fantasia dos outros
própria dos palcos,
nada humanos,
nada heróis,
nada
fantasia.
Mestre, que seria
de nós se não fossemos
capazes de pendurar
nossas frias personas
só por alguns instantes?
Seríamos outras frias personas
a serem penduradas novamente
e novamente vestidas de frias personas.
Sem vestir frias personas não sentiríamos,
nós mesmos, o frio?
Diga-me, mestre,
o que seria de nós
se não houvesse
uma montanha
apenas para nós?
A terra nos consome,
consola-me, mestre!
Seríamos ainda assim o que já éramos,
A montanha não nos foi dada
Ela só surgiu quando nos tiraram o abismo...