O IMORTAL

Se há algo para confessar digo:

eu não vou morrer.

Morrer é para jovens,

para adultos que se atrasam,

para crianças afogadas

no amor dos pais.

Eu viverei para sempre!

E os anjos afirmam

o mundo precisa do meu testemunho,

pois sem ele nada acontecerá:

o canal diário das tragédias;

o pregão na bolsa de Wall Street

que é igual a língua de cães

lambendo a mão de seus donos.

E quem entrará na idade adulta,

no dia do primeiro amor,

se eu não puder um dia

confirmar esta entrada?

Eu não vou morrer,

porque eu não posso morrer.

É tão óbvia a necessidade do mundo

por minha presença.

O passado e o presente

deram-se as mãos

e o futuro se abre para minha passagem.

Qual dimensão pode existir,

se eu não experimentar o seu gosto?

O passado tem gosto de ferro

como os antibióticos.

Eu descobri esse sabor ontem.

Se não fosse por isso,

os antibióticos ainda estariam voando

na esfera do “nada aconteceu”.

Mas eu não sou Deus,

dono do tempo

eu apenas não vou morrer,

e sei que a humanidade aguarda

a força, a doçura

da minha perenidade.

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 25/01/2022
Reeditado em 22/08/2024
Código do texto: T7436706
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.