O IMORTAL
Se há algo para confessar digo:
eu não vou morrer.
Morrer é para jovens,
para adultos que se atrasam,
para crianças afogadas
no amor dos pais.
Eu viverei para sempre!
E os anjos afirmam
o mundo precisa do meu testemunho,
pois sem ele nada acontecerá:
o canal diário das tragédias;
o pregão na bolsa de Wall Street
que é igual a língua de cães
lambendo a mão de seus donos.
E quem entrará na idade adulta,
no dia do primeiro amor,
se eu não puder um dia
confirmar esta entrada?
Eu não vou morrer,
porque eu não posso morrer.
É tão óbvia a necessidade do mundo
por minha presença.
O passado e o presente
deram-se as mãos
e o futuro se abre para minha passagem.
Qual dimensão pode existir,
se eu não experimentar o seu gosto?
O passado tem gosto de ferro
como os antibióticos.
Eu descobri esse sabor ontem.
Se não fosse por isso,
os antibióticos ainda estariam voando
na esfera do “nada aconteceu”.
Mas eu não sou Deus,
dono do tempo
eu apenas não vou morrer,
e sei que a humanidade aguarda
a força, a doçura
da minha perenidade.