Um quadro na parede
Na parede do quarto, uma pintura,
um tanto desbotada pelos anos,
retrata a tragetória dos mundanos
numa tela surrada e sem moldura.
Um algo amargo, triste e inumano
dá à pintura um ar de desalento.
Não sei se por excesso de talento,
mistura o sagrado ao profano.
A parede do quarto, indiferente,
parece tolerá-lo, tão somente,
como fosse um detalhe do reboco.
Eu, que não sou parede, acredito
que o quadro é um soneto, e foi escrito
por um contemporâneo do barroco.