O GRITO DA TERRA
Resplandece em ávido segredo a natureza,
Desvirgina a terra seca que transporta a seiva,
Desponta o verde nas entranhas sofrida,
Massificada pelo arremesso do pó a destruir a vida.
Despertar angustiante da semente mal lançada,
Que cedo ou tarde revertera em alimento,
Na clorofila imersa no resvalado campo em que se aninha,
Do verde a flor e do fruto o seu lamento
Impulsionados pelo Deus da natureza,
Vertido em pranto a sede de alimento,
E vai perdendo a força e o complento,
Sem sal, sem suco a gerar o seu momento.
Reverbera o humano que suga seu encanto,
Fonte perene que sequer se fez adulta,
Macula em verbicida a inocência ainda que menina,
Mas que alimenta a vida que no chão é sofrimento.
Vivicidade sem presságios de extermínio,
A natureza traz sofrido e fraco gesto
E cai ante os destroços a se perder no visgo,
Os frutos férteis que outrora foi o sustento.
Quem viver verá a histeria dos que têm fome,
Ressentidos nos recantos a migalhar o pão,
Ovacionando os restos que sobraram,
Que o vaticínio esqueceu de impor às mãos.
Tudo se fez em função do vil progresso,
Descomedida sede de querer,
Esqueceram da sublime natureza,
Que in natura vem aos poucos perecer.
CRS 17.11.07