RÉQUIEM POR UM DEFUNTO
Antes de descer à terra pura e dura,
Discursos de ocasião são proferidos,
Como se tratasse duma homenagem,
Adiada toda a vida pelos proscritos.
O que em vida não houve coragem
Pra dizer de tão dúbia personagem,
Dizem agora, quando já não escuta
Por lhe faltar forças para discursos.
Discursos rendilhados de palavras
Bonitas, que são pura hipocrisia,
Por não serem a verdadeira magia
Que navega em águas tão bravias.
O último acto da hipócrita cerimónia
Que se reveste de simulada memória,
Não está isento dum cínico disfarce
Que se faz passar como um traste.
Simulando arrependimento e perdão,
Os presentes dão a descarada ilusão
Que sentem profundamente a perda
De alguém que consideraram merda.
Este é o final triste desta homenagem
Que presto ao defunto do meu corpo
Que sem forças jazz inerte e absorto,
Pra eternidade simples personagem.
Ruy Serrano - 22.11.2021