O LUSTRE E A MOSCA
De todos os bens materiais
Eu diria que lustres são um dos meus favoritos
Grandes, pequenos, simples ou incrustados de cristais
Quando pequena acreditei que para uma pessoa sofisticada eles eram um requisito
Parecem tão puros, serenos e geniais, brilhantes e angelicais
Nunca é mau tempo para observar seus fractais, a cada segundo que passa eles brilham mais
Me sinto puxada pelos mínimos, invisíveis detalhes
Refletem seus penduricalhos caríssimos no chão, e suas formas são sintonia
Não me importa se é um lustre barato e simples
Se sua forma for pura e límpida geometria
Eu olharei para a sua alegoria, e para os reflexos de luz que irradia
Já a mosca, esse ser impertinente e sujo
Que livre voa e livre pousa em todas as coisas, sem dó
Fica a circular, atraída pela luz como se estivesse de bajoujo
A lâmpada, batendo, fazendo um barulho que só
Talvez essa mosca sem objetivo maior, que só se reproduz e morre tenha uma vida muito pior
Mas uma vez confundida com a luz natural, uma lâmpada vira localização
Circulada por seres que parecem não ligar que isso a vida lhes custe
Numa dança confusa, obtusa, nada os impede à obsessão
E de forma alguma se suste
Sua dança ilustre, sua dança ao lustre
E se atraídas são as moscas pelo que brilha, procurando seu habitat
Na minha cabeça, o lustre é o descanso eterno desse ser vivo
Esses portadores de alma majestosos e cheios de adornos, transparentes em sua existencialidade
À todos os voadores impertinentes, está aceso e preciso
E a cada segundo brilha mais, num brilho incisivo, e aos voadores, o lustre é o paraíso
No instante que as luzes se apagam, eles vão embora
Se morressemos e virássemos moscas, tendo o lustre como paraíso eterno?
Seria um futuro muito miserável, viver de esmola
E a lua que os atrai está muito distante e intocável, do lado externo
Talvez lá que seja o paraíso, para qual eles irão uma hora
Me lembra de como os humanos preferem algo menor, mais fácil e que vem sem demora do que o duradouro, com o risco de se atrair pelo matadouro das luzes mata-moscas, vivendo sem sair do casulo, com medo do que há lá fora