Trancafiado
Esse coração velado
Empedernido
Uma vez já chorado
Cheio de passado
Se encolhe no presente
Dentro de um peito trancado
Num hoje nebuloso
Onde o sol está ausente
Coração traiçoeiro
Vela pelo ido
Como se fosse um corpo
Embalsamado
Aguardando o descanso derradeiro
Esperando dentro da caixa
Sem poder se expandir
Revira-se, teimoso
Apertado e encolhido
Livre como um sem teto
Sem ter para onde ir
Boiando ao Deus dará
Debate-se eternamente
Procurando em vão
Uma abertura por onde fugir
Neste lago leitoso
Flutua, adormecendo em suspensão
Banhado de frio caudaloso.