Poema bêbado
E lá está o ponto na vidraça,
à sombra dum silêncio sepulcral,
como se fosse o último sinal
antes que mundo caia em desgraça.
Ao lado do tal ponto há uma traça
parada na metade do caminho.
Não sei se viu o ponto tão sozinho,
ou se foi simplesmente por pirraça.
E fica o ponto, enquanto a noite passa,
e tomo mais um gole de cachaça,
e ponho um verso a mais do que devia.
Enfim, a embriaguez alcança o sono,
a traça faz do ponto o cão sem dono,
que faz dormir no ponto a poesia.