AVULSO 03
“Poesia e Linguagem”
Não há «linguagem específica» da Poesia
Muito menos ela ser a “linguagem” de Deus…
Ela é tão só, e apenas, a expressão da harmonia
Que toda a Natureza fala debaixo dos Céus!
A linguagem da Poesia é a manifestação
Da fala: das pessoas, das coisas e do mundo,
Isto é, a imagem integral da revelação
Naquilo que ela tem de belo e de profundo.
Falam os gestos, os toques, os sons, os olhares;
Falam os recantos, os caminhos e as ribeiras:
Falam os ventos, as encostas, as aves e os mares;
Falam os homens e as vidas de várias maneiras…
Tudo o que existe tem linguagem de poesia,
E em todos os lugares há poemas e há versos,
E há poetas que cantam, com ou sem fantasia,
Singelos ideais com significados diversos.
Mas há linguagens que são violência atroz,
Por palavras que são tudo, menos prazer,
Contra as quais há que elevar a áspera voz
Pra qu´ a concórdia possa enfim prevalecer.
Na história da Poesia os poetas, de forma ruda
E às vezes ingénua, fizeram dela juramento:
Dante, Camões, Bocage, Whitman ou Neruda
Entre o Céu e o Inferno e, ao sabor do vento…
Encantaram, por versos feitos de profecia.
E se mais o sentiram pagaram co´ a vida
A incauta incerteza da sua forma de viver,
Numa pessoal paixão perene e renascida.
Quantas Odes, Sonetos, Epopeias ou Elegias,
Quantos versos ou poemas ficaram por brilhar
E, se brilhassem, seriam, tais obras, maravilhas
Desses poetas sem tempo para as semear!
O tempo da Poesia é, tão só, inefável,
Como inefável e etérea é a sua linguagem
Na alma e na mente e no gesto admirável
Dum cálamo sublime sempre em viagem.
Benditos os poetas – arautos dum destino –
Naquela aposta transcendente de um combate
Qu´ é o seu voo, nas asas de um sonhar divino
E num raiar de luz qu´ ilumina em toda a parte!
Frassino Machado
In INSTÂNCIAS DE MIM